quarta-feira, 1 de julho de 2015

O amor Neotestamentário



Diferente do idioma português a linguagem grega extra bíblica tem um bom número de palavras para descrever o amor. As mais importantes delas são: phileó, stergó, eraó e agapaó. Os escritores neotestamentários utilizaram algumas destas palavras para expressar as verdades dadas por Deus sobre amor.

Phileó aparece 25 vezes no Novo Testamento e denota principalmente a atração de pessoas entre si, quando estão estreitamente ligadas dentro e fora da família, expressa preocupação, cuidado e hospitalidade, bem como amor às coisas no sentido de "gostar de".

A palavra menos frequente nos escritos bíblicos é "stergó", significa amar, sentir afeição, especialmente mútuo amor entre pais e filhos. Pode-se empregar também do amor de um povo pelo seu soberano, o amor de um deus tutelar pelo povo, e até dos cachorros por seu dono. É muito comum para o amor entre os cônjuges, e não ocorre em parte alguma no Novo Testamento, a não ser nos compostos "astorgos em Rm. 1:31; Tm.3:3” e "philostorgos" em Rm. 12:10”. Acha-se no entanto, em alguns escritos primitivos I Clemente 1:3; Policarpo 4:2.

O verbo "eraó" e o substantivo "erós" do outro lado denotam o amor entre o homem e a mulher que abrange o anseio, o anelo e o desejo. O deleite dos gregos na beleza do corpo e nos desejos sensuais achava expressão aqui, na abordagem dionisíaca à vida, e sua sensação dela. O êxtase sensual deixa muito para trás a moderação e proporção, e os  gregos conheciam o poder irresistível de Eros - o deus do amor tinha o mesmo nome - que, no caminho do êxtase, esquecia-se de todo o raciocínio, vontade e discrição. Havia, outrossim, um entendimento mais místico de "erós", mediante o qual os gregos procuravam atingir, e ir além de, todas as limitações humanas, a fim de chegarem à perfeição. Além dos cultos de fertilidade, com suas influências orientais, e sua glorificação do Eros gerador na natureza, havia também as religiões de mistério, cujos ritos visavam unir o participante com a divindade. Aqui, a união espiritual e física com o deus chegava mais e mais para o primeiro plano, por mais que se empregassem figuras e símbolos eróticos. Platão procurou elevar o amor espiritual acima do físico "erós", para ele, era o esforço em prol da retidão, do autodomínio e da sabedoria; é a concretização do bem, o modo de se atingir a imortalidade. Em Aristóteles o conceito se desenvolveu ainda mais nesta direção, e em Plotino domina a aspiração mística para com a união espiritual com o transcendental. No Novo Testamento o verbo "eraó" e o substantivo "erós" não aparecem.

O verbo "agapaó" aparece frequentemente na literatura grega de Homero em diante, mas o substantivo "agapé" é uma construção que só aparece no grego posterior. Foi achada uma só referência fora da bíblia: ali, a deusa Isis recebe o título de "agapé".

"Agapaó" é frequentemente uma palavra descolorida em grego, e aparece com frequência como alternativa para, ou sinônimo com, "eraó" e "phileó", com o significado de gostar de, tratar com respeito, estar contente com e dar as boas vindas.

Quando, em raras ocasiões, se refere a alguém que foi favorecido por um deus, fica claro que, diferentemente de "eraó", não se refere ao anseio humano por posses ou valores, mas sim, uma iniciativa generosa de uma pessoa por amor à outra. Tal fato se expressa, sobretudo no modo que se emprega "agapétos", normalmente a respeito de uma criança, mas especialmente quando se trata de um filho único ao qual se dá todo o amor dos pais.

No Novo Testamento, o amor é uma das ideias centrais que expressam o conteúdo total da fé cristã. Uma das atividades de Deus é o amor. Em diversos momentos, é possível observar Deus no texto bíblico demonstrando amor por seus eleitos. O amor de Deus, acima de tudo, é o seu amor por si mesmo, sua glória, e sua santidade. O texto de 1 João 4:16 indica isso quando nos diz que Deus é amor. Em si mesmo como Pai, Filho e Espírito Santo, Deus é o epítome de todo amor. Para ser um Deus de amor, ele não precisa de nós, nem é a sua glória como o Deus de amor incompleta sem nós. De eternidade a eternidade ele é amor, em e de si mesmo, na Trindade.

Já o termo grego "stergó" ocorre no Novo Testamento somente em Rm. 12:10, no composto "philostorgos", que significa, amando cordialmente, numa expressão na qual Paulo ressalta a necessidade por amor na igreja, por meio de amontoar palavras para amor: " té philadelphia eis allélous philostorgoi - dedicados uns aos outros em amor fraternal”. Em Rm 1:31; 2Tm 3:3 no composto "artorgos", sem coração, desumano, sem afeição natural. Como ilustração de semelhante falta de afeição natural da família. "Phileó", do outro lado, aparece comumente, embora também apareça em palavras compostas. Em todos os casos, no entanto, permanece uma palavra mais limitada e descolorida. Um exemplo típico seria "philadelphia", amor por um amigo ou irmão. A ênfase principal de "phileó”; é o amor por pessoas que tem vínculos estreitos, ou de sangue ou de religião.

Quando a Bíblia trata sobre relacionamento entre casais, não fala do amor "erós", que busca apenas a satisfação pessoal, deleite na beleza do corpo e nos desejos sensuais, pelo contrário, a Escritura aponta para o amor como mandamento da mesma maneira que Jesus nos ensina (Mateus 22,36-40).
Mesmo não direcionando o texto bíblico para o amor entre homem e mulher, o apóstolo Paulo na segunda carta à igreja de Coríntios, descreve as qualidades do amor (ágape).

O amor é paciente, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria; não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre; tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

A paciência do amor denota a ideia de lentidão para irar-se, e não se ofende ante o primeiro insulto. É o contrário da impaciência, que está sempre preparada para tirar vingança. A benignidade traz a ideia de realizar feitos específicos de bondade em favor do amado (a). O amor não tem inveja. A palavra traduzida por inveja no original é "dzeloo", que denota ideia de ser ciumento, a melhor tradução seria: "o amor não é ciumento", ou seja, o verdadeiro amor não traz sentimento de posse, não é composto de um misto de desconforto e raiva e atormentam aquele que cobiça algo somente pra si.
O amor não se vangloria: Pode-se aludir à palavra vangloria que denota exibição intelectual ao exibicionismo retórico. O amor não exalta a si mesmo para degradar aos outros, não se ostenta, nem daquilo que possui como aquilo que lhe é natural. O amor não se ensoberbece; O amor impede a pessoa de inflar-se com o senso de sua própria importância, o amor não se mostra altivo. Não se porta com indecência; O amor não se comporta sem boas maneiras. O amor jamais age fora de lugar ou contrariamente ao seu caráter, mas observa o verdadeiro decoro e as boas maneiras. Não busca os seus interesses; O amor não busca seu próprio aprazimento, seu prazer, sua própria reputação, sua própria bem-aventurança, porquanto, nada busca que queira apenas para si mesmo. Não se irrita; O amor não perde a compostura em vista das ameaças aos seus direitos. Não se amargura ante as ofensas, reais ou imaginárias. Não suspeita mal;  não encontra o mal onde o mal não existe, ou seja, não imagina o mal em face de pequenas indicações, que se alicerçam em pequenos indícios observados, em informações insuficientes que tenham recebido. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; O amor jamais se rejubila quando outros cometem a maldade, também não se regozija com a queda alheia, não se regozija com a fraqueza de outros, a fim de exaltar-se em sua própria suposta retidão, pelo contrário, o amor encontra sua plena satisfação na verdade, o amor se alegra ante o triunfo do bem, e onde quer que esse triunfo se possa encontrar.

Neste ponto, podemos observar os quatro “tudos” do amor.
Tudo sofre; O amor lança um véu sobre os pecados e as fraquezas  dos outros, suportando-os, pois é blindado.
Tudo crê; Essas palavras não significam que o amante deva ser crédulo, a ponto de ser enganado por qualquer charlatão. No entanto, o amor acredita no lado melhor das pessoas e não procura expandir os seus defeitos.
Tudo espera; O amor vê o lado brilhante das coisas, não se desespera, tem esperança inundado de confiança.
Tudo suporta; o termo suporta faz alusão a formas de tribulações, o amor suporta todo tipo de sofrimento, o amor é como uma madeira madura, nunca cede diante das tribulações.

Utilizando a mesma palavra “ágape” que vem carregada com todas as qualidades descritas acima, o Apóstolo instrui a relação de homem e mulher dentro do casamento (Ef. 5:25-33 - Cl 3:19), este exemplo deve ser levado para o namoro cristão (pois um cristão deve apenas namorar com a pessoa que deseja casar-se) e noivado. Todo relacionamento entre homem e mulher deve ser inundado desde amor descrito por Paulo.


Que o Senhor nos ajude a ter este amor “ágape” dentro dos nossos relacionamentos.

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