domingo, 20 de março de 2016

Como conheci o Calvinismo

Eu sempre fui cristão. Isso significa que nasci numa família protestante, mas o termo mais utilizado para ilustrar isso é evangélico, pois os protestantes no Brasil são mais conhecidos como evangélicos.

Lembro-me que meu pai era pastor de uma pequena igreja pentecostal, mas por conta de mudanças doutrinárias, saiu da liderança e procurou uma congregação mais conservadora, acabamos indo para Assembleia de Deus, ministério do Brás.

Aos doze anos, nessa nova congregação, envolvi-me  com o grupo de louvor e comecei a tocar violão nos cultos, foram anos de muita empolgação, mas pouca doutrina, ou melhor, a liderança dessa igreja era fraca, e não ensinava a Escritura de forma sistemática e profunda, e como consequência, nunca tive interesse em ler a Bíblia. 

Minha devoção era uma mistura de entusiasmo por participar do grupo de louvor com esperança de um “mover sobrenatural” que supostamente acontecia nas festas comemorativas. Eu era como um paralítico ao lado do Tanque de Betesda, esperando o anjo descer com minha benção nestes Congressos (João 5:1-9). 

Mas não foi nestes Congressos que  a minha concepção de fé mudou, mas em um culto de domingo.
Foi em um culto de domingo, que o líder dos jovens decidiu apresentar uma peça de teatro. 

Naquela época apresentação de teatro dentro da liturgia não era algo comum. Na minha mente, usar teatro dentro da igreja me incomodava, não soava ser lícito apresentar um espetáculo artístico durante o culto, nessa época eu tinha dezenove ou vinte anos (hoje tenho 31), tinha certeza que aquilo era uma postura nada cristã, mas não sabia como provar isso.

Por conta deste incômodo fui procurar respostas na internet. Foi então que me deparei com um texto sobre teatro, no blog Púlpito Cristão, e o assunto principal do texto era quão problemático é inserir na liturgia peças teatrais.

Depois de alguns dias, voltei neste blog, e percebi que o canal produzia diversos textos de conteúdo apologético, além de noticiar e comentar sobre acontecimentos do meio evangélico. Foi aí que fui tentado a comentar as matérias do blog, sim, comentar na internet é uma enorme tentação, e naquele momento meus comentários tinham como fim o "ter razão", ou seja, eu opinava para minha própria glória.

Não me lembro de como ocorreu, mas este blog me fez ter contato com uma comunidade do Orkut, chamada "Perguntas Cristãs Complicadas", e foi ali que tive meu primeiro contato com o Calvinismo. Nessa comunidade de debates, havia militantes de todas as religiões, mas naquela época, as doutrinas que estavam em evidência eram as cristãs. 

De um lado arminianos do outro lado calvinistas. Aquela época foi o ápice dos debates virtuais, ou como já classifiquei, ali começava a Primeira Onda Calvinista Virtual.

Logo estes debates migraram para os blogs. Os debates eram tão intensos que alguns blogs tinham um ranking para demonstrar quem comentava mais, e mais, debatíamos até por email. 
Como a maioria dos evangélicos, eu era sinergista,  e combatia ao lado dos arminianos. E foram os ataques dos calvinistas que me levaram a estudar teologia.

No começo dos estudos teológicos, li muito a respeito da teologia arminiana, mas também estudava muito o calvinismo, claro, estudava o calvinismo para tentar refutá-lo. 

Mas a tensão dentro de mim entre o calvinismo e o arminianismo começou a aumentar. Além de conhecer alguns calvinistas que ensinavam as doutrinas da graça com maestria, quanto mais estudava o calvinismo, mais assimilava sua doutrina e cosmovisão. Em pouco tempo já concordava com o calvinismo, mas continuava sendo arminiano, pois o orgulho não me deixava assumir a cosmovisão calvinista.

A cada dia era bombardeado mais e mais com o calvinismo, foi então que o orgulho cedeu em relação à verdade, e me assumi calvinista, e logo comecei a militar do lado calvinista. 
A paixão pelo calvinismo foi tão grande, que no ano de 2010 tive a oportunidade de me matricular em um curso superior de teologia, numa Universidade Calvinista.

O curioso é que neste curso, numa sala de 44 alunos, apenas dois eram Calvinista, e lá estava eu, agora do lado calvinista, com a missão de “catequizar” os arminianos.

Anos se passaram, muita coisa mudou na minha vida e na internet, mas continuo na missão, se posso chamar assim, “catequizando” os cristãos (arminianos e afins)  para que possam crer nas doutrinas da graça.

A diferença é que antes eu tentava mudar as pessoas para a minha própria glória, hoje faço isso para a glória de Deus.

5 comentários:

  1. Muito bom o seu texto, Higor. Tive uma experiência semelhante a sua, porém, com alguns agravantes. Nasci praticamente em um lar cristão, ouvi a a Bíblia desde pequeno, e, como toda criança, assistia a desenhos animados bíblicos – isso me ajudou muito a ter uma fé sólida na verdade –. Não obstante, minha vida eclesiástica não parou por aí, passei por várias igrejas, inclusive neo-pentecostais, quando pequeno, pois quando se é criança, os filhos acompanham os pais onde eles forem.

    Em 2010 fui para a mesma faculdade que você estudar Letras, depois saí e fui estudar Relações Internacionais (apesar disso tudo não me sentia completo, sentia que aquelas profissões não seriam a minha vida). Neste ínterim, – entre esta faculdade calvinista e a outra, trabalhava na faculdade calvinista, onde quase todos os dias, eu discuria com uma colega calvinista, presbiteriana sobre Teologia. E, assim como você fazia tudo para a minha glória, não a de Deus.

    Após sair do curso de RI, decidi fazer um curso básico de teologia de uma destas igrejas neo-pentecostais (pois não queria sofrer uma lavagem cerebral para me tornar um calvinista – pensava eu. rsrsrs)

    Neste curso, (que era de três ano, fazendo dois nesta escola e o último na forma de integralização de créditos) me deparei com as Doutrinas da Graça (calvinismo) e decidi estudar seriamente. Na integralização, tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas como professores de excelência tanto espiritual quanto acadêmica, e colegas de prestígio inigualável, dentre eles conheci um colega em especial, que hoje me discipula, orientando-me dentro da fé reformada.

    Só tenho a agradecer a ele por ter guiado a minha caminhada até aqui, e, tenho certeza que ele continuará a fazê-lo, pois, hoje, ele depositou em mim um desejo de fazer as coisas para a glória dele, e não mais para mim mesmo.

    "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus" (1 Coríntios 10.31).

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    1. Muito bom seu testemunho irmão!
      Que o Senhor continue nos guiando!

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Muito bom irmão, graças ao Pai conhecir o calvinismo pela internet ainda está no abc, espero um dia testifica o testemunho de como a doutrina da Graça tem me lapidado.

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