sábado, 25 de julho de 2015

Resposta ao vídeo do Bispo Walter McAlister "O que é Teonomia?"




No dia 24 de julho de 2015, o Bispo Primaz da Igreja Cristã Nova Vida[1], Walter McAlister, publicou em seu canal do youtube um vídeo com o título “O que é Teonomia?[2]”. No vídeo o Bispo tenta explicar de forma rápida e simples, qual o significado da visão de mundo Teonômica.
McAlister é conhecido dentro do contexto reformado por se intitular pentecostal e reformado. Ele vem tentando há tempos harmonizar as doutrinas reformadas com o pentecostalismo. No Brasil, o pentecostalismo não é reformado, mas o Bispo, ao longo de sua história, tem se esforçado para nortear e reler o pentecostalismo a partir das premissas reformadas.

Tentar conciliar a doutrina reformada com o pentecostalismo não é tarefa fácil, mas o bispo McAlister em diversos pontos tem acertado, mas estes acertos infelizmente não refletem no vídeo “O que é Teonomia?”.

O primeiro problema do vídeo ocorre quando McAlister usa os termos “A Teonomia está na moda”.
A afirmação “estar na moda”, soa como se a Teonomia fosse algo que está em evidência por acidente e todos estão aderindo automaticamente essa tendência sem senso crítico, como se fosse apenas um comportamento passageiro, isso é uma inverdade.

Os cristãos reformados não aderem às doutrinas por estarem em evidência, moda, ou por fazerem parte de uma tradição, e tenho certeza que o Bispo também não se tornou reformado por moda.
Os verdadeiros cristãos fazem como os Bereianos (Atos 17: 10-12), questionam, pesquisam, indagam todo ensinamento usando como filtro e regra de fé as Escrituras, a partir daí, declaram como verdade um ensinamento, este é o comportamento comum no meio reformado[3].

A afirmação mais problemática dos primeiros minutos do vídeo é essa: “os jovens calvinistas estão reinventando a roda”. Essa afirmação é néscia e descuidada.
O próprio McAlister cita um expoente da Teonomia, Abraão Kuyper. Essa citação em si, responde e demonstra que o Bispo é contraditório. É impossível os jovens calvinistas estarem tentando reinventar algo que na história do cristianismo já está solidificado.

Os Teonomistas contemporâneos não criaram ou estão tentando reinventar uma doutrina, pelo contrário, os defensores da Teonomia reafirmam aquilo que Lutero[4] (1483-1546), Calvino[5] (1509-1564), Kuyper[6] (1837-1920),  Rushdoony[7] (1916-2001), Bahnsen[8] (1948 - 1995), Gary DeMar [9], entre outros, ensinam, e os ensinamentos desde servos de Deus não são avessos as Escrituras, mas trazem uma enorme verdade bíblica.

O auge da problemática no vídeo do Bispo ocorre nessas três afirmações:
“A Teonomia se fundamenta na idéia de que a sociedade pode e deve ser regida pelo sistema judiciário Veterotestamentário, pela Lei Levítica”.
“Primeiro, a Lei Levítica se aplicou apenas ao povo de Israel na Terra de Canaã”
“Em Cristo, a lei levítica não se aplica mais, basta ler o livro de Atos”.

A Teonomia não é uma doutrina que se fundamenta no Antigo Testamento, pelo contrário, o sistema Teonômico ensina a lei de Deus como revelada no Antigo e Novo Testamento, como sendo o único padrão autoritativo de verdade e justiça e que a Escritura é inteiramente suficiente para nos instruir na justiça em cada esfera da vida. O Teonomista não extrai a Lei Levítica do seu contexto e aplica nos dias de hoje, mas aplica aquilo que a bíblia ensina de forma completa e absoluta, pois quem acredita ou usa apenas partes das Escrituras, não crê na Palavra de Deus, mas em si mesmo.

É complicado dizer que a Lei Levítica era vigente apenas para o povo de Israel, pois as Escrituras dizem o contrário (Levítico 24:22; Êxodo 12:49), a Lei de Deus é prescrita também para o estrangeiro. O próprio Apóstolo Paulo confirma isso (1 Timóteo 1:9,10). Obviamente, a Lei de Deus não leva à regeneração, mas é o único absoluto que temos para aplicar, que leva à ordem social.
A terceira afirmação do McAlister, soa como dispensacionalista[10], mesmo sabendo que o Bispo não defende este tipo de escatologia[11].

A leitura bíblica dispensacionalista mutila as Escrituras, afirmando que tudo do Antigo Testamento, de Gênesis 12 em diante, pertence inteiramente a Israel segundo a carne, e que nenhum de seus preceitos (como tais), são obrigatórios àqueles que são membros da Igreja, que é o Corpo de Cristo.
Em nenhum momento no livro de Atos dos Apóstolos deixa de lado as Leis Levíticas, inclusive, todo Novo Testamento tem como premissa e norte os textos do Pentateuco (Romanos 1:32).

O texto clássico que refuta a ideia de que a Lei foi abolida em Cristo, é uma fala direta do próprio Cristo: “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra (Mateus 5:17,18).

Quando Cristo usa a expressão "a Lei ou os Profetas" indica o conjunto completo das Escrituras judaicas, conjunto de livros que alguns judeus tentavam revogar.
Os saduceus não aceitavam os escritos dos Profetas, por motivo de sua interpretação errônea. Já os fariseus revogavam parte da Lei e os essênios revogaram partes de ambos, mas Jesus afirma neste discurso de forma categórica, eu não revoguei nem um nem outro.

E por fim, o Bispo McAlister diz que a Teonomia é um erro teológico e apela para a clássica falácia do espantalho[12], dizendo que a Teonomia é judaizante.
O termo legalismo nunca foi usado como sinônimo de alguém que aplica as Leis de Deus corretamente (isso que a Teonomia faz), seja na igreja, na cultura ou no Estado, pelo contrário, o legalismo ocorre quando alguém tenta forçar o outro a guardar a lei cerimonial ou tentar guardar a Lei de Deus como caminho direto a salvação (A Teonomia nunca afirmou que as Leis de Deus são caminho para o céu).
Existem cinco maneiras de usar a lei de Deus incorretamente, e o Novo Testamento descreve-as perfeitamente:

1. Guardando a Lei para ser justificado e salvo. (Veja Rm 3.21 4:25, Ef 2.9-10)
2. Impondo a lei cerimonial sobre os outros. (Gl 4.9-11, Cl 2.16-17, o Livro de Hebreus)
3. Adicionando regras e tradições humanas à Lei divina. (Mc 7.1 15, Mt 15.1-9)
4. Esquecendo-se de coisas essenciais em favor de questões menores. (Mt 23.23)
5. Estando preocupado somente com a obediência externa à Lei de Deus. (Mc 7.18-23, Mt 15.15-20, Mt 23.27-28)[13]

Estes são os cinco pontos principais onde o termo legalismo se encaixa, qualquer outra forma de aplicar o termo legalismo, é um espantalho ou uma mentira.
Convido o Bispo McAlister fazer um vídeo de retratação, e crer que as Escrituras são o único parâmetro absoluto para nortear a realidade.
Todos nós seguimos alguma lei, mas podemos optar por criar leis a partir do humanismo que muda conforme a cultura, ou utilizar as Escrituras, que é imutável.
Não sejamos como os fariseus e os escribas que negligenciam os mandamentos de Deus e amam as tradições humanas (Marcos 7:8- 9).
  









*Questionado em sua página pessoal sobre o assunto, o Bispo McAlister agradeceu o questionamento e o material sobre o tema, que um internauta postou. e disse que iria fazer as leituras indicadas e refazer o vídeo.
Hoje cedo, dia 26/07/15, o vídeo "O que é Teonomia" não está mais disponível para o público no youtube. Mesmo com a retirada do vídeo, o texto acima serve como luz para os cristãos que têm dúvidas sobre o tema.
Se todo cristão quando questionado respondesse como o Bispo McAlister o cenário evangélico seria muito diferente, glorifico a Deus pela vida do  Bispo McAlister e que o Senhor continue abençoando-o.








[1] http://www.icnv.com.br/conheca-a-icnv/historia/
[2] https://www.youtube.com/watch?v=zS4Llz1Dlak
[3] http://tempora-mores.blogspot.com.br/2010/10/sempre-reformando-ou-sempre-mudando.html
[4] http://www.barrabaslivre.com/2015/05/o-luteranismo-original-e-lei-civil-do.html
[5] http://www.barrabaslivre.com/2013/02/calvino-e-lei.html
[6] http://www.monergismo.com/textos/politica/politica-crista-kuyper_hexham.pdf
[7] http://www.monergismo.com/rousas-john-rushdoony/prefacio-teonomia-na-etica-crista/
[8] http://www.monergismo.com/textos/lei_evangelho/teonomia-mulher-adultera-pena_bahnsen.pdf
[9] http://www.barrabaslivre.com/2013/10/um-padrao-para-tudo-por-gary-demar.html
[10] O dispensacionalismo foi um movimento que surgiu em meados do século 19, na Inglaterra, como reação ao estado de frieza e liberalismo em que se encontrava a igreja oficial. Começou com reuniões de estudo bíblico em que uma nova maneira de interpretar as Escrituras foi desenvolvida. Partindo do texto de 2 Timóteo 2.15, e entendendo em sentido literal o verbo grego orthotomeo, ali empregado, como faz a Versão Inglesa King James, o movimento julgou encontrar neste texto a chave para a “correta” interpretação da Bíblia, ao traduzir aquele verbo como “dividir corretamente” e não “manejar corretamente” a palavra da verdade (com o sentido figurado de ensinar, expor ou interpretar corretamente), como temos em nossas versões em português.
[11] https://www.youtube.com/watch?v=6nY6jzCcV-0
[12] É um argumento em que a pessoa ignora a verdade sobre o tema e a substitui por uma versão distorcida, que representa de forma errada esta posição.
[13]http://www.barrabaslivre.com/2013/01/o-mito-do-legalismo-por-thomas.html

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